Apoio Mútuo na Bajouca. Nem para a minha família! nem para nenhuma Outra!

No dia 18 de julho 2019 iniciou-se a mini bicicletada das Caldas da Rainha até à Bajouca Leiria. A viagem foi mais uma acção contra as explorações de gás a pedalar até à Bajouca onde foi realizado o Camp in Gas.

Uma alternativa para quem goste de viajar de bicicleta e não concorde com a metodologia que suportava a ideia do evento assente num calendário institucional, com o único intuito de trabalhar com ferramentas políticas, absorvendo, mas não assimilando as ideias e necessidades locais e populares, tornando-as obsoletas e uma ferramenta dos interesses de uma “causa maior”, onde o espírito do DIY (Faz tu Mesmo) se dilui no reconhece e duplica das necessidades de grupos e ONG nacionais e internacionais. Também porque devido à falta de tempo não nos podemos juntar á bicicletada Camp in Gas iniciada dia 15 de Julho em Aveiro.

Quando decidi realizar a viagem teria de ser inserido acções de informação, e assim marcámos uma nas Caldas da Rainha, onde acaba a concessão da Batalha e outra em Aljubarrota, onde seria realizado um segundo furo depois do furo da Bajouca, com a cedência de espaços pelas juntas de freguesia locais, a  quem agradecemos e nos disponibilizamos para mais sessões.

Nesta iniciativa estiveram elementos da CREA, Fracking Não, Gás Natural Não, Movimento do Centro Contra a Exploração de Gás e uns companheirxs de Burgos da Asamblea Vecinal zona Úrbel y Rudrón/Fracking NO! E Coopcasa!

Os companheirxs de Burgos foram convidados devido à sua experiência de luta, e ao apoio mútuo que partilhamos desde a Frankapada no País Basco. Desde então fui participar em acções contra o fracking em Burgos e elxs participaram em acções em Portugal, esta foi mais uma.

Com elxs trouxeram milhares de stickers, bandeiras, tela e tinta para criar mais bandeiras para distribuir no Camp in Gas pela população local e participantes no evento, pela simples empatia da luta da população do Oeste contra a exploração de energia fóssil.

O dia 18 passámos a tarde a criar stickers, tecido com mensagens para cozer nas roupas e bandeiras através de serigrafia. De noite realizámos a primeira sessão de esclarecimento na cidade das Caldas da Rainha, onde falámos do que se passa em Portugal e o que se tem passado em Burgos entre desejos comerciais e vontade popular. Pouca gente compareceu devido ao curto tempo de anuncio da sessão como também não termos nenhum logo no cartazes, nem apoio de ONG ou partido político…

Importante realizar a sessão porque a cidade está no limite sul da concessão Batalha, já se realizaram sessões sobre as explorações de petróleo no mar (Peniche), mas sem falar das concessões em terra, e mais uma vez com vozes do meio institucional verde. E também porque já existiram estudos para procurar reservas de petróleo nos anos 80 e estudos para armazenamento de gás natural, na periferia da cidade em 2010. A cidade é também o local da sede da CIM Oeste, que se considera o centro intercomunicador na linha da frente do combate às alterações climáticas.

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“O combate às alterações climáticas são um dos principais pilares de acção da OesteCIM que, para isso, está a desenvolver uma série de medidas e políticas públicas, num valor aproximado de um milhão de euros. A Maria, uma menina de nove anos, é a mascote da “luta” pela preservação do clima e será o rosto de uma forte sensibilização nas escolas e de projectos ao nível da mobilidade, eficiência energética e bioterritório, que pretendem tornar o Oeste como uma região de carbono zero.” Gazeta das Caldas 15 de Novembro de 2019

Dia 19 tivemos a segunda sessão em Aljubarrota, confirmada 2 dias antes. Aljubarrota é importante porque é uma área bastante perfurada, e onde a Mohave Oilencontrou uma coluna de gás, que trouxe a Australis até à Zona Centro. Importante porque tem 20 anos de exploração sem nunca ter havido uma ONG, ou grupo a explicar-lhes os danos de uma industria de gás nas suas terras. Alguns ganharam dinheiro, outros poder, outros contactos privilegiados. Os populares só ouviram a versão da corporação, e nunca questionaram a autarquia e juntas de freguesias locais, são os próprios autarcas que dizem pouco ou nada saberem. As pessoas que estiveram na sessão ficaram interessadas no documentário (levamos só os primeiros 13 minutos desta montagem que realizamos para a Bicicletada anti fracking) que levámos e ficou apalavrada outra sessão, quem sabe com a presença da empresa. De madrugada fomos dormir ao Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota, para levantar as 8.00 a tempo de chegar à Bajouca antes do inicio da marcha com os populares e pessoas activas contra o furo. Chegámos a tempo, com o especial de dois elementos terem pedalado pela primeira vez tantos km, parabéns, superaram as vossas expectativas e limites, na próxima podemos ir mais longe, e isso vale de bicicleta, a pé, na cabeça, nas acções… Qual o limite? Ninguem sabe!

Chegámos e fomos relaxar na sombra dos tanques de lavar roupa da aldeia, excelente dia…

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Comunicámos, demos stickers, bandeiras, patches… Criámos laços e acompanhámos a marcha até ao local do furo, onde trocamos impressões com populares e vizinhos do local do furo.

De noite aproveitámos os concertos DIY, e as conversas que se espalhavam pela madrugada. Procurei um local para dormir e encontrei um excelente toldo com um espacinho debaixo… Dormi bem, acordei melhor, estava no quintal da PTrevolutionTV, bom conhecer…

Dia 21, tivemos de voltar ao dia a dia, os companheiros de Burgos numa viagem de 300 km, e nós até Caldas, Lisboa, Leiria/Marinha Grande, Costa Vicentina, etc…

Quando chegamos às Caldas um amigo do Porto tinha enviado um cartaz que criou e deixou na rua. Criação de Oficina Raiz em Movimento

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PS: No ultyimo dia no Camp in Gas iria haver uma assembleia geral com a população, que não compareceu. Que Falhou?

A Empresa que tinha um furo programado para Setembro de 2019, acabou por não o realizar, devido às movimentações populares e políticas depois de sair o documento da empresa para estudo de Impacte Ambiental, que gerou uma novela que acaba com o anúncio de novo documento para Avaliação de Impacto Ambiental no primeiro trimestre de 2020. E a população da Bajouca, e vários concelhos da zona centro terão de continuar a pressionar, e agir a desestabilizar o normal funcionamento das instâncias, órgãos responsáveis e empresas, porque foi assim que se parou os furos no Algarve e o de Setembro na Bajouca, e levou ao recuo das explorações offshore. Sem duvida juntamente com outros factores, mas se não fosse a população, as ONG continuariam mudas?

Depois de anos onde só vozes individuais tentavam informar e discutir o assunto, depois de terem sido populares a tirarem as fotos que acabaram com o projecto da Portfuel de Sousa Cintra, depois da recolha de milhares de assinaturas, aparecem ONG e grupos para reclamar a vitória. Mas como ainda existe a necessidade de aqui estarmos. Que Ganharam as ONG? Passados 20 anos de trabalhos, de doutoramentos para as petrolíferas ,de estudos sobre a constituição geológica e estudo para a utilização da técnica de fracking é que aparecem os especialistas na linha da frente do movimento ambientalista como símbolos e senhores da razão que deve ser seguida sem duvidar. Agora que todo o trabalho pré inicio da exploração está realizado?

2020 vai ser mais um ano de luta, as empresas depois de comunicados das principais ONG ambientalistas portuguesas, lançam o seu comunicado de apresentação e um estudo mais robusto e completo, respondendo ao pedido das mesmas. E Agora?

A empresa responde com artigos para responder as acusações dos activistas, ou para relembrar a dependência da economia nacional e mundial das energias fósseis . E Nós respondemos com quê?

Este processo de defesa das explorações de fontes de energia fóssil está a ser preparado desde 2012 pela Partex Oil and Gas. Quando reagiram as ONG? E porquê? Porque as vozes e acções populares já não passavam sem ser notadas? Porque o calendário político assim propiciava? Ou porque sempre souberam, mas só agora se sentem capaz de ganhar? Ganharam seguidores? Notoriedade? Influencia? O que Ganharam? Ou Talvez seja melhor perguntar: O que não perderam!

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Fracking & Não convencionais? Nem para a Minha Familia! Nem para Nenhuma Outra!!