António Costa Silva; Partex Oil and Gas ( Fundação Gulbenkian)

Aqui deixamos uns excertos de uma entrevista do presidente da partex Oil and Gas ( Fundação Gulbenkian) publicada em 2012.

Fica a saber os planos internacionais e nacionais da Partex, e  as suas politicas. O seu olhar sobre o Médio Oriente e África, as energias renováveis, a Troika e a politica mundial ( EUA, Canadá, China, Rússia, Médio Oriente) de energias fósseis e renováveis.

A Cultura do petróleo cria uma dependência grave. Em seu nome tem-se aceitado fechar os olhos ao que se passa nos países de extração, nos ecossistemas,  na vida dos animais. As guerras que ouvimos dizer que se devem à defesa nacional e paz mundial, além de necessitar de petróleo para combustível, medicamentos, matéria prima de construção, são na verdade muitas vezes devido aos recursos naturais, petróleo, água, cereais, etc… Corporações como a Partex continuam a defender a economia acima da sustentabilidade local e mundial.

Que cultura queremos para o futuro? Uma cultura filantrópica ( roubo; abandono; obtenção de riqueza, desprezo, Solidariedade , senhor, indiferença, cultura de exploração) ou uma sociedade por igual. Agora que os economistas pedem e forçam uma cultura comum. De que lado vais estar? Do lado dos opressores? Ou do lado dos que resistem às coligações politicas e corporativas?

Se as corporações querem um mercado livre e uma globalização econômica. Nós vamo-nos unir , e os muitos povos em volta do globo poderão resistir globalmente.

Podes ver a entrevista original aqui: Partex ( Gulbenkian)! A VISÃO DO MUNDO

Excertos da entrevista do Presidente da Partex Oil and Gas


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António Costa Silva, presidente executivo da Partex Oil and Gas, petrolífera da Fundação Calouste Gulbenkian diz estar “extremamente preocupado com os sinais que vêm, relativamente ao cluster das energias renováveis”, um sector que construiu fábricas, dá emprego e exporta. O gestor concorda que os subsídios às energias renováveis “devem ser ajustados” para um cabaz de energias que “seja realmente competitivo”.

Que resultados espera a Partex em relação a 2011?

Foi um dos melhores de sempre, em função do preço do petróleo, uma variável que afecta significativamente a nossa performance. Até Outubro, o preço esteve na ordem dos 111 dólares por barril, que é superior ao preço de 2008, o ano de pico. E as nossas operadoras tiveram uma performance acima do plano de negócios. Foi um ano excelente.

Quanto é que cada um dos negócios, gás e petróleo, pesa nas contas da Partex?

As nossas companhias de Omã têm uma contribuição significativa para os negócios da Partex, à volta de 60 a 65%. Nos próximos cinco anos, queremos ver se a contribuição de Omã e Abu Dhabi baixa em conjunto para menos de 50%, para a produção no Cazaquistão, Angola, Argélia, Brasil começar a impor-se.

Esta diversificação de que está a falar, em termos de equilíbrio entre gás e petróleo, vai alterar?

Vai. O gás representa 28% das nossas receitas actuais, mas queremos aumentar no futuro esta quota para haver maior equilíbrio entre o petróleo e o gás

E há objectivos assumidos?

Há objectivos, alguns que já se materializaram. O projecto Ahnet na Argélia, operado pela Total, tem a Sonatrach e a Partex como parceiros e é um grande projecto de gás. Temos também o objectivo de ter uma concessão em Moçambique.

É um alvo de investimento?

Sim. As descobertas na bacia de Rovuma são extremamente importantes. Sem dúvida, pode-se fazer ali um projecto de GNL vencedor

E em parceria com quem?

Em Moçambique há várias entidades que estão interessadas, mas nós provavelmente iremos com Omã, com a Oman Oil (OOC)

Quando fala de aumentar o peso do gás natural, a Partex definiu um patamar para este aumento?

Nós gostávamos de ter mais ou menos 50% de petróleo e 50% de gás. Acreditamos que o gás vai ser o futuro do petróleo. Outra tendência vai ser a descarbonização da economia, que se irá acentuar cada vez mais

O interesse de Omã na REN passou pela Partex?

Não se deve directamente a nós, embora tenhamos sido consultados e vejamos a iniciativa com muitos bons olhos.

No que respeita ao equilíbrio entre o gás e o petróleo, qual é o vosso calendário?

Queremos atingir essa meta nos próximos cinco anos, mas não depende só de nós. Depende das oportunidades, de se conseguir os projectos, de se poder desenvolvê-los. O objectivo é este próximo ciclo de cinco anos, mas se não for pelo menos ficará lançado para se concretizar no ciclo seguinte

E além do petróleo e do gás, onde querem crescer mais?

Temos projectos na área das energias renováveis, mas isso é com o nosso accionista, a fundação tem esses investimentos.

Nos investimentos de gás e petróleo, o que é onshore e offshore neste momento?

Os investimentos offshore que temos são só no Brasil, temos a participação no bloco B-MS-10 na bacia de Santos, temos uma participação também na bacia de Sergipe Alagoas, também num bloco da Shell em offshore e temos a participação em Angola no bloco 17-06. Nenhuma delas está a dar receitas, porque ainda estamos em fase de exploração

Como está o projecto de Peniche? No ano passado estava com muitas expectativas relativamente ao trabalho que estava ser feito. Tem dados mais concretos?

Neste momento fizemos já as campanhas de aquisição sísmica 2D e seleccionámos uma área mais pequena onde fizemos uma campanha de aquisição sísmica 3D. Não basta ter a rocha-mãe, a geração, a rocha-reservatório, a aguadilha, mas também o sincronismo que tem de existir. O nosso operador, que é a Petrobrás, está a desenvolver um excelente trabalho a esse nível. Em 2013 é que vai ser tomada a decisão se se perfura ou não um poço para testar os principais prospectos identificados.

As estimativas mantêm-se?

À medida que o tempo vai passando, obviamente que as estimativas vão mudando. Partilho da opinião de que há uma probabilidade de existirem hidrocarbonetos, até porque há uma similaridade muito grande do ponto de vista geológico de toda a costa portuguesa com a costa do Canadá, já percebemos que há aqui um conjunto de elementos, mas basta falhar um deles para as expectativas descerem a zero.

Como é que a empresa vê neste momento a situação no Médio Oriente?

Estamos muito preocupados, quer com a situação no norte de África quer com o Médio Oriente. No Médio Oriente temos neste momento praticamente uma guerra civil na Síria, temos a instabilidade no Iémen, temos o Bahrein que continua com grandes tumultos e instável e há uma questão crucial que é a própria Arábia Saudita.

Está mais pessimista do que há um ano, então?

 Estou relativamente pessimista. Para complicar, há uma luta fortíssima entre dois velhos países rivais, a Arábia Saudita e o Irão, e a situação está carregada do ponto de vista político. E qualquer pequena fervura, qualquer incidente pode criar uma situação muito difícil. Os sauditas estão rodeados por um arco de instabilidade e no interior do país, os 12% de população xiita estão concentrados na província oriental, na província de Katif, que é precisamente onde estão todos os grandes campos petrolíferos. O desenvolvimento do programa nuclear iraniano é uma situação extremamente difícil No mercado de futuros, aquilo a que chamam as ‘call options‘, que são os contratos para um direito de compra a preços pré-determinados com uma data futura, para o preço do petróleo que chega a cerca de 180 dólares, aumentaram exponencialmente. E porquê? Porque tudo se confina ao estreito de Ormuz, onde por dia passam 16 ou 17 milhões de barris de petróleo. Um terço do petróleo transaccionado no mundo, transportado por mar, passa por ali.

Quais são as consequências em Portugal de haver uma situação desse género?

Os efeitos seriam catastróficos, em todo o lado, em Portugal, na Europa, no mundo. Esperemos que não aconteça, que haja razoabilidade, mas não podemos esquecer que há entre estes países uma tensão muito grande. Muitos dirigentes destes países da Península Arábica são sunitas e não esquecem a declaração que o ayatolah Khomeini fez quando foi a revolução no Irão. Ele disse: ‘o mundo islâmico até hoje foi dirigido pelos árabes, foi dirigido pelos turcos com Saladino, foi dirigido pelos turcos com o império otomano, chegou a hora dos persas’. Elementos importantes da hierarquia saudita criticaram directamente os EUA e disseram que a política que vigorou até hoje – petróleo em troca de segurança –, não é suficiente Os sauditas têm pavor do poder nuclear iraniano e com Israel do outro lado, estou relativamente pessimista em relação a este barril de pólvora.

No caso de a situação dos preços ser insustentável para os operadores, a Partex põe a possibilidade de sair do Médio Oriente?

Pelo fundador, não há nenhuma obrigação específica de manter, mas é óbvio que é parte da nossa história. Se falar com muitas pessoas do Médio Oriente, a Partex foi a iniciadora da indústria petrolífera no Médio Oriente, foi a pioneira. Eles dizem “you are part of it”. Faz parte do património genético da companhia a ligação a estes dois países. A empresa existe há 75 anos e a situação nos dois países (Abu Dhabi e Omã) a situação é um bocadinho diferente. Abu Dhabi é muito estável, não houve até agora qualquer tumulto. Em Omã houve, mas com a sabedoria do sultão Qaboos ficou estabilizada. É preciso ver que estes dois países têm um modelo de distribuição da riqueza que vai funcionando, Em relação a Abu Dhabi e Omã temos total confiança nas reformas introduzidas. Agora, todo o arco de instabilidade que está à volta é para nós extremamente preocupante, Há estudos sobre o mercado do petróleo que identificam o que irá acontecer ao preço do petróleo se houver um ataque israelita ao Irão em meados deste ano. Nos primeiros dias pode chegar aos 150 dólares e depois vai para 200 e pode subir mais se interromperem o estreito de Ormuz. Esperemos que alguma coisa aconteça a favor da racionalidade, porque temos o risco de um efeito dominó face ao que se passa na Síria, no Bahrein, no Iémen.

 Tem falado muito da economia do mar e de dados interessantes relativamente a esta reserva mundial de sulfuretos que Portugal conquista com o alargamento da plataforma continental. Até que ponto é que todos os recursos interessantes para a indústria, quer petrolífera, quer energética, são viáveis no médio e longo prazo para as empresas e países?

Quando falamos de nódulos de manganês são nódulos depositados no oceano e é relativamente fácil a sua remoção. No fundo, é uma questão de colecta desses nódulos. Em 2006, a Alemanha desenvolveu um projecto numa área dessas que está em andamento. Os sulfuretos polimetálicos já são diferentes, porque contêm cobre, zinco, e esses já exigem outro tipo de equipamentos e a indústria petrolífera pela sua experiência pode fornecer essas soluções.  A verdade é que o país tem recursos e tem de se olhar para eles.

Até que ponto estão provados esses recursos?

Há vários projectos no âmbito da extensão da plataforma continental, como o mapeamento. Numa conferência internacional, há alguns, um especialista das Nações Unidas projectou as zonas económicas exclusivas do mundo com a (então) possível extensão e Portugal estava no centro, também a nível de sulfuretos, como demonstra a guerra, entre aspas, entre a China e o Japão por causa das terras raras no ano passado, um grupo de 17 elementos que são utilizados na indústria electrónica de alta precisão e na fabricação de magnetos e outros materiais para os computadores, turbinas eólicas, etc. O que eu defendo é que haja alianças, que haja pensamento estratégico para desenvolver todos estes recursos na zona económica exclusiva, e que podem envolver materiais de alta tecnologia, através de uma aliança com a Alemanha ou com os Estados Unidos. Ambos os países estão interessados porque precisam das matérias-primas.

Como é que país que não conseguiu até agora fazer a sua cartografia de ordenamento, vai conseguir fazer um mapeamento do tamanho da nossa nova ZEE?

O que está aqui nem causa é a sobrevivência do país, é encontrar um modelo de desenvolvimento económico que se baseie no aproveitamento dos seus recursos. É por isso que conto a história da senhora Golda Meir, antiga  primeira-ministra de Israel. Um dia desabafou perante o seu estado maior: ‘não me venham falar de Moisés, porque esse homem escolheu o único lugar no Médio Oriente em que não há petróleo’.

Cientistas a trabalharem com o poder político?

Nunca podemos ter uma política energética consistente se ela não articular as vertentes técnica, económica, política e a componente internacional. Às vezes só vemos um ou dois elementos e depois as coisas falham todas, . E o que aconteceu em Israel? Eles lançaram a Iniciativa Estratégica para a Energia e descobriram os campos de Tamar e Leviathan. Em conjunto têm cerca de 24 biliões de pés cúbicos de gás e a bacia ao sul de Jerusalém tem petróleo não convencional com reservas substanciais. Isto mostra que mais do que capitularmos é preciso estudarmos o país, mapearmos os recursos e desenvolvermos para cada uma dessas áreas modelos que atraiam investimento externo.

Esse mapeamento está a ser feito, não está?

Sim, mas depois a articulação entre toda esta área e as decisões políticas não acontece. No projecto da Repsol no Algarve, foi o governo que lançou o concurso em 2001 e demorámos 10 anos para assinar o contrato. Este é o retrato completo da nossa incompetência política estratégica. Não vamos ver livres dos recursos fósseis nas próximas décadas. Vamos tê-los até ao fim do século e se calhar até depois.

 Em relação aos sulfuretos, que estratégia política defende que deveria ser adoptada por este governo?

Penso que o mapeamento desta área de sulfuretos polimetálicos está em curso. É evidente que depois de serem mapeados tem de se fazer um teste-piloto, uma confirmação in loco da sua área. Mas depois o fundamental é desenhar as políticas de alianças com quem esteja interessado em participar na exploração dos recursos, como a Alemanha, os Estados Unidos e outros.

O secretário de Estado da Energia ainda há pouco tempo referiu que os preços em Portugal, com o aumento do IVA e tudo, em termos de paridade de poder de compra são os mais elevados da UE. Há margem neste momento para conseguir que os preços se mantenham estáveis e não continuem a subir de forma tão acelerada?

Em relação aos preços da electricidade, quando olho para os dados da EDP não mostram isso. Há aqui diferentes formas de olhar para os preços. Mas estou a falar em termos de paridade de poder de compra. A EDP quando apresenta os preços estão perfeitamente alinhados com a média europeia. Portanto, acho que é um falso problema. Ainda é prematuro julgar a política deste governo na área de energia. Há sinais positivos como a assinatura do acordo de energia no Algarve. Outro sinal que me parece positivo é a revisão da lei da concorrência, que é parte do programa da troika.

Quando o memorando de entendimento com a troika diz que tem de se acabar com subsídios excessivos, mas não liga à política de apoio às renováveis, abre caminho a essa destruição?

O programa da troika despertou um unanimismo nacional num país de maledicentes. O programa é necessário, mas não resolve nada. É por isso que o programa da troika tem de ser ligado a uma visão estratégica de desenvolvimento futuro do país. A energia não está separada da economia.  Quanto ao cluster das energias renováveis, é evidente que há este período de subsidiado inicial em que tem de ser ajustado, mas ao mesmo tempo há um cluster com fábricas construídas, gente empregada e tecnologia que se desenvolveu, com exportação de equipamentos para o exterior e tudo isso tem valor.  E quanto ao programa da troika, os países membros da União Europeia fazem exactamente o contrário do que receitaram a Portugal, a começar pela Dinamarca. Não há nenhuma forma de energia que não tenha subsídios. Aliás, o ultimo relatório da Agência Internacional de Energia dizia que os subsídios aos combustíveis fósseis são cinco a seis vezes mais do que as renováveis e os fósseis são dominantes no sistema.

Para os consumidores, é complexo saber o que estão a pagar através das tarifas e o que pagam depois através dos impostos. Não deveria haver uma comunicação mais clara, que não seja só sobre os CIEG (custos de interesse económico geral), mas que também diga que os nossos impostos pagaram, por exemplo, a dessulfuração da central do Pego?

Falta ao país uma autoridade técnica nacional na área da energia, que tornasse mais transparente a formação de preços, mas também a própria modelagem do sistema energético nacional. Em Portugal segue-se muito o conselho de Bismark, que dizia que a política se faz com sentimento e não com cálculos. Portugal segue esse conselho e não tem uma visão lúcida de base de uma política energética consistente, que ultrapasse os ciclos eleitorais. Vivemos quase em adolescência política. A energia é como a educação e a saúde. São vitais e precisam de um rumo claro

 Mas muito deste consumo é transporte. Como se pode baixar a factura aqui?

Passará por uma reorganização do modelo de cidades. O automóvel individual foi uma grande conquista do séc. XX. O transporte público das cidades, ferroviário, eléctrico, vai ser a grande conquista do séc. XXI. Será insustentável viver nas cidades de outro modo no futuro. Basta que os preços disparem.

Havia outra saída que não as privatizações para responder à troika?

Não há um pensamento estratégico por detrás destas operações. Um pensamento estratégico implica uma política de alianças, escolha de parceiros, olhar para o futuro e ter um pensamento de médio e longo prazo. Se isso não existe podemos ter uma situação difícil de venda ao desbarato de activos estratégicos para os países.

Mudando de assunto, como viu as conclusões da cimeira de Durban?

Foi um acordo de última hora para preparar a sucessão de Quioto e, como dizem os franceses, no detalhe é que está o diabo

O arrastamento para encontrar um sucessor de Quioto não faz com que esta questão seja levada memos a sério pelos países e pelas opiniões públicas, em geral?

Sim. Estamos num momento em que as lideranças não se entendem. Durban já foi um pouco melhor do que Copenhaga, mas o Canadá já descolou e os grandes países poluidores não fazem parte. Não podemos esquecer que 1/3 da população mundial vive entre o nível do mar e os nove metros do degelo da Gronelândia e da Antártida são suficientes para fazer subir o mar em seis metros. E depois na altura, fazemos o quê? Arranjamos uma jangada para salvar as coisas? O mérito do relatório Stern, de 2006, foi ter mudado a discussão das incertezas dos modelos climáticos para a economia e termos percebido que se não fizermos nada, perdemos 20 por cento do PIB mundial nas próximas décadas e que o investimento em medidas que o podem evitar representaria um por cento do PIB mundial.

A crise não está a ser usada como argumento para não se tomarem certas medidas ambientais, esgrimindo-se o seu custo, ou até tomar medidas contrárias?

É o que vai acontecer. Os líderes estão a falhar os objectivos e não acredito que o problema se resolverá em 2015. São os países mais afectados que começam a tomar medidas, mas no geral, há uma grande ambiguidade em relação a isso

Os objectivos do roadmap 2050 da UE são concretizáveis num tão longo prazo?

As políticas energéticas, para serem consistentes, precisam de objectivos realistas. E sabemos há muito tempo que os objectivos da UE são irrealistas e à força de se repetirem perdem credibilidade. A energia, como outras áreas, tem a ver com a vida de todos nós

Quais são para si os principais pontos críticos nos próximos anos para a indústria?

Um ponto crucial são os recursos não convencionais e o shale gás – gás natural não convencional. Por causa do petróleo não convencional, a produção nos EUA cresceu em 2010 e em 2011 cresceu mais ainda. É por isso que a cotação do WTI (West Texas Intermediate, um dos índices de referência mundial do crude) se desligou do Brent e do resto do mundo. O WTI é medido em Cushion, no Oklahoma, o hub central. Agora anunciaram um oleoduto até ao Golfo, no Louisiana, e a diferença entre os dois tipos de petróleo começou a atenuar-se. Esta tendência do shale vai espalhar-se pelo resto do mundo e vai levar a uma maior contribuição do gás para a matriz energética. Estudos indicam que as reservas não convencionais de gás (em rochas xistosas) representem 60% a 250% das reservas convencionais. Estas estão estimadas em 180 biliões de metros cúbicos.

Isso não tem problemas ambientais?

Tem. A técnica usada para a extracção do gás é a fracturação hidráulica. É importante que ela fique confinada à rocha  para não ir para os aquíferos e os contaminar. São importantes uma regulação eficaz e multas fortes. O petróleo está a perder cota há 11 anos consecutivos e temos o gás a ganhar terreno ano a ano.

Já não podemos ser tão categóricos e dizer como há um ano, que a tendência é de subida lenta e sustentada?

Não. Há um ano, a variável geopolítica estava quase congelada. Era tudo dominado pela crise financeira e pela sua resposta. Hoje é completamente diferente. Voltou a instabilidade política nos países produtores do Médio Oriente, onde estão os três países com capacidade excedentária e que temem muito que o Irão feche o estreito de Ormuz, porque ficam com a sua produção bloqueada. Os Emirados Árabes Unidos (EAU) podem não ficar bloqueados por causa de um projecto estratégico: têm em construção um oleoduto que liga os seus campos ao golfo de Omã. Se estiver operacional no primeiro semestre deste ano, será um trunfo

Isso beneficiaria as empresas fora do golfo. Como ficaria a Partex?

Se houver problemas no estreito de Ormuz, toda a produção de Omã, que é parte significativa das nossas receitas, não é afectada. Abu Dhabi está a desenvolver oleoduto estratégico de Fujairah para estar operacional em Abril/Maio. Pode eventualmente livrar a produção dos EAU de constrangimentos que possam ocorrer no Golfo. Desse ponto de vista, estamos a preparar-nos para eventualidades mais sérias

Concorda com o discurso de incentivo à emigração de jovens?

É uma má política e uma péssima mensagem sobre o futuro do país. Não se pode gerir um país assim. Devemos atrair os jovens e sobretudo os mais talentosos. Muitos têm espírito empreendedor. Devem ser apoiados por capital de risco, dar-lhes condições para desenvolverem as suas ideias, as suas empresas, os seus projectos. São as novas empresas que vão produzir riqueza.

A Partex podia ter um papel aí?

No âmbito da nossa actividade, captamos jovens, damos estágios e alguns ficam na empresa. Como professor (no Instituto Superior Técnico), se me pedem conselhos não digo para não irem para fora. Há uma multinacional que todos os anos vai buscar alunos ao Técnico. Mas isso tem a ver com as oportunidades individuais das pessoas. Transformar isso numa política de um país, parece-me mal, porque a sua política deve ser o oposto.

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